Até na academia podem acontecer surpresas intelectuais. Hoje eu estava em uma das minhas sessões de caminhada sem sair do lugar na esteira e resolvi começar a ler, um dos meus artifícios para fazer o tempo passar "mais rápido". Por sugestão da Fernanda, estagiária da CAPRICHO, comecei a ler uma reportagem um pouco antiga da revista Época. “É tão boa que pedi para levar a revista pra casa para ter minar de ler” me garantiu a Fê.
Na verdade, quando ela começou a falar que tinha lido uma reportagem genial na revista semanal da Globo, imediatamente pensei que deveria ser algo escrito pela Eliane Brum. Eliane é gaucha e minha vizinha lá em Porto Alegre. Bom, para falar a verdade, agora que eu moro em São Paulo e ela no Rio, melhor dizer que minha mãe é vizinha da filha dela.
Não lembro muito bem quando descobri que a moça bonita que morava na frente de casa com uma filha que mais parecia sua irmã era A Elaine Brum. Com certeza eu já estava na faculdade de Jornalismo. Com certeza eu já tinha lido sua matéria para a Zero Hora sobre os “tartarugas ninjas”, meninos de rua que moravam nos esgotos de Porto Alegre. Só sei que passei a perceber que toda vez que eu via uma reportagem incrível na Época o nome dela estava junto. Da reportagem sobre os cartórios e as “Stephanies” filhas de Zé das Silva até a matéria que virou assunto em 9 entre 10 rodas em fevereiro deste ano: Suicidio.com, sobre o meninos de 16 anos que se matou com a ajuda de “amigos” virtuais.
A reportagem que li na esteira hoje à noite – e que, se não o fez o tempo passar mais rápido, pelo menos fez ele ser mais proveitoso- narrava uma aventura pessoal da jornalista. Ela se “Internou” em um retiro de meditação por dez dias. O processo incluía ficar sem falar, ler ou escrever durante todo o período e ficar uma centena de horas imóvel, em posição de lótus. Tudo com o objetivo de “mudar o funcionamento da mente para eliminar o sofrimento”.
É um texto gigante, descritivo, emocional e cheio de bom jornalismo. Uma de suas conclusões finais, quase me fez tropeçar na esteira, de tanta impacto que me causou:
"E há também uma necessidade de sentir. Nossa época acredita que é possível viver sem sentir nenhum tipo de dor, física ou psíquica. Não ter dor se tornou quase um direito. Basta uma pontada na cabeça, que já corremos a tomar uma pílula. Basta uma tristeza real, para que imediatamente nos ofereçam um antidepressivo. Não queremos menstruar nem ter dor de parto, qualquer desentendimento com o chefe acaba com nosso dia, desistimos de um amor no primeiro percalço, por acreditar que merecemos a felicidade eterna. Não podemos nem sentir calor ou frio, para isso há ar-condicionado. Parece que não queremos é viver. Descobri no retiro que muita gente pressente que há demasiadas falsas promessas em sua vida."
Em 2006 ela lançou um livro chamado A vida que ninguém vê - uma coletânea de suas reportagens. E teve uma sessão de autógrafos na qual fui convidada, mas como já estava morando aqui em São Paulo, não pode ir. Minha mãe, muito fofa (obrigada, mã!), foi. E saiu de lá com um exemplar do livro para mim, devidamente autografado com seguintes palavras: “ Para Bárbara, boa sorte da melhor profissão do mundo”. Simples e lindo, como uma boa dedicatória sempre deseja ser.
Acho que Elaine Brum é uma das jornalistas que estudantes de jornalismo devem conhecer. Que devem receber xeroxs dos textos dela de professores empolgados pedindo que leiam e avaliem os grandes momentos. Elaine é, enfim, uma jornalista para entrar na história.
Talvez eu devesse ter aproveitado mais o tempo que ela morava em frente à minha casa. Quem sabe pedir uma xícara de açúcar emprestada e forçá-la a me contar suas histórias. Mas tudo bem. Com seus textos e esta dedicatória, eu já fico mais que satisfeita.
Para ler a reportagem completa clique aqui.
Friday, May 16, 2008
"A melhor profissão do mundo"
Marcadores:
Elaine Brum,
jornalismo
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6 comments:
essa matéria foi tema de discussão na pós. Ela é das poucas (senão única) que faz literatura em reportagem na grande imprensa brasileira hoje. E o melhor: não inventa nada, diferente de alguns coleguinhas da nossa idade já estão fazendo...
Pô, e esse trecho é muito ulça.. ele precisa voltar...
Muito bom o texto! ;-)
Que coisa...nessas horas eu lembro quando te dizia: "faz vestibular prá direito, te forma e passa num concurso público, vais ganhar muito bem." Blergh! Que bom que as tuas certezas prevalecem !
Beijos te amo!
esse eu ainda não li, mas o do suicídio é realmente ótimo. Se as redações valorizassem mais esse tipo de profissional... talvez tivéssemos mais coro para esse "melhor profissão do mundo". beijão!
Nem sei como cheguei ao seu blog. Fato é que gostei muito e vou querer voltar mais vezes. Também sou jornalista e admiro muito o estilo da Elaine Brum.
aaaaaaaah, já ouvi falar dela também! vou procurar mais textos dela, bárbara, valeu a dica!!
bjsssssssssss
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