Friday, May 16, 2008

"A melhor profissão do mundo"

Até na academia podem acontecer surpresas intelectuais. Hoje eu estava em uma das minhas sessões de caminhada sem sair do lugar na esteira e resolvi começar a ler, um dos meus artifícios para fazer o tempo passar "mais rápido". Por sugestão da Fernanda, estagiária da CAPRICHO, comecei a ler uma reportagem um pouco antiga da revista Época. “É tão boa que pedi para levar a revista pra casa para ter minar de ler” me garantiu a Fê.

Na verdade, quando ela começou a falar que tinha lido uma reportagem genial na revista semanal da Globo, imediatamente pensei que deveria ser algo escrito pela Eliane Brum. Eliane é gaucha e minha vizinha lá em Porto Alegre. Bom, para falar a verdade, agora que eu moro em São Paulo e ela no Rio, melhor dizer que minha mãe é vizinha da filha dela.

Não lembro muito bem quando descobri que a moça bonita que morava na frente de casa com uma filha que mais parecia sua irmã era A Elaine Brum. Com certeza eu já estava na faculdade de Jornalismo. Com certeza eu já tinha lido sua matéria para a Zero Hora sobre os “tartarugas ninjas”, meninos de rua que moravam nos esgotos de Porto Alegre. Só sei que passei a perceber que toda vez que eu via uma reportagem incrível na Época o nome dela estava junto. Da reportagem sobre os cartórios e as “Stephanies” filhas de Zé das Silva até a matéria que virou assunto em 9 entre 10 rodas em fevereiro deste ano: Suicidio.com, sobre o meninos de 16 anos que se matou com a ajuda de “amigos” virtuais.

A reportagem que li na esteira hoje à noite – e que, se não o fez o tempo passar mais rápido, pelo menos fez ele ser mais proveitoso- narrava uma aventura pessoal da jornalista. Ela se “Internou” em um retiro de meditação por dez dias. O processo incluía ficar sem falar, ler ou escrever durante todo o período e ficar uma centena de horas imóvel, em posição de lótus. Tudo com o objetivo de “mudar o funcionamento da mente para eliminar o sofrimento”.
É um texto gigante, descritivo, emocional e cheio de bom jornalismo. Uma de suas conclusões finais, quase me fez tropeçar na esteira, de tanta impacto que me causou:

"E há também uma necessidade de sentir. Nossa época acredita que é possível viver sem sentir nenhum tipo de dor, física ou psíquica. Não ter dor se tornou quase um direito. Basta uma pontada na cabeça, que já corremos a tomar uma pílula. Basta uma tristeza real, para que imediatamente nos ofereçam um antidepressivo. Não queremos menstruar nem ter dor de parto, qualquer desentendimento com o chefe acaba com nosso dia, desistimos de um amor no primeiro percalço, por acreditar que merecemos a felicidade eterna. Não podemos nem sentir calor ou frio, para isso há ar-condicionado. Parece que não queremos é viver. Descobri no retiro que muita gente pressente que há demasiadas falsas promessas em sua vida."

Em 2006 ela lançou um livro chamado A vida que ninguém vê - uma coletânea de suas reportagens. E teve uma sessão de autógrafos na qual fui convidada, mas como já estava morando aqui em São Paulo, não pode ir. Minha mãe, muito fofa (obrigada, mã!), foi. E saiu de lá com um exemplar do livro para mim, devidamente autografado com seguintes palavras: “ Para Bárbara, boa sorte da melhor profissão do mundo”. Simples e lindo, como uma boa dedicatória sempre deseja ser.

Acho que Elaine Brum é uma das jornalistas que estudantes de jornalismo devem conhecer. Que devem receber xeroxs dos textos dela de professores empolgados pedindo que leiam e avaliem os grandes momentos. Elaine é, enfim, uma jornalista para entrar na história.

Talvez eu devesse ter aproveitado mais o tempo que ela morava em frente à minha casa. Quem sabe pedir uma xícara de açúcar emprestada e forçá-la a me contar suas histórias. Mas tudo bem. Com seus textos e esta dedicatória, eu já fico mais que satisfeita.

Para ler a reportagem completa clique aqui.

6 comments:

felipe said...

essa matéria foi tema de discussão na pós. Ela é das poucas (senão única) que faz literatura em reportagem na grande imprensa brasileira hoje. E o melhor: não inventa nada, diferente de alguns coleguinhas da nossa idade já estão fazendo...

Pô, e esse trecho é muito ulça.. ele precisa voltar...

Di Giacomo said...

Muito bom o texto! ;-)

Nívia said...

Que coisa...nessas horas eu lembro quando te dizia: "faz vestibular prá direito, te forma e passa num concurso público, vais ganhar muito bem." Blergh! Que bom que as tuas certezas prevalecem !
Beijos te amo!

Ana Alice said...

esse eu ainda não li, mas o do suicídio é realmente ótimo. Se as redações valorizassem mais esse tipo de profissional... talvez tivéssemos mais coro para esse "melhor profissão do mundo". beijão!

Giovanna Longo said...

Nem sei como cheguei ao seu blog. Fato é que gostei muito e vou querer voltar mais vezes. Também sou jornalista e admiro muito o estilo da Elaine Brum.

Thais said...

aaaaaaaah, já ouvi falar dela também! vou procurar mais textos dela, bárbara, valeu a dica!!

bjsssssssssss